Operação Avalanche
Relatório da actividade do agente infiltrado, camarada Careca, durante as manobras de Outono na Lousã.
A/C Líder Supremo da Militia
Conforme deliberado pela cadeia de comando, junta-se relatório da actividade de espionagem junto do inimigo. Para não dar bandeira e não ser detectado, não vá dar-se o caso improvável de alguém ler isto, o relatório vai redigido “à civil”.
Conforme combinado, manipulei de forma convincente o inimigo para me vir buscar à porta de casa. Ainda ponderei longamente qual a estratégia a adoptar para não ser desmacarado, mas o meu disfarce não durou nem 1 segundo. O condutor da viatura e o ajudante eram dois camaradas, a saber, o Broeiro e o Magalhães. Quando me perguntaram porque é que não tinha ido com o resto da tropa, assobiei para o lado e chamei a atenção do condutor que se tinha enganado no caminho.
No local do rendez-vous, verifiquei que havia mais camaradas militianos à espera para embarcar neste mesmo transporte e fiquei a pensar se me tinha falhado a leitura de alguma Ordem de Serviço.
O inimigo possui equipamento mais avançado que o nosso, mas aparenta alguma desorganização e falta de método. Só a paciência do condutor é que parece fazer com as tropas se movimentem. Com a Militia, têm o comum o facto de partirem pontualmente atrasados.
A viagem decorreu sem incidentes, com agradável rancho pelo caminho (apesar de o condutor da viatura se ter perdido várias vezes). Durante o trajecto não cheirou uma única vez a eucalipto, apesar de estarmos na terra deles... A falta de perícia do condutor (e de sentido de orientação) obrigou a que o inimigo fizesse avançar uma coluna táctica em marcha acelerada para garantir que o aquartelamento se encontrava aberto e à nossa espera.
Chegada à Lousã sem incidentes de maior, a não ser o condutor da viatura ter-se perdido mais umas vezes. Desconfio que desconfiam de mim e estão a ver se me baralham as voltas. De qualquer modo, consegui obter o nome do local através de tortura a uma velhota que por ali passava. O local ainda não cheira a eucalipto, pelo que é recomendado para futuras incursões. Foi feita a distribuição das camaratas e fui colocado com o camarada Fred, que foi enviado com a missão de espiar as minhas actividades de espionagem. Ao fim da noite tive me esforçar para não ser apanhado. Durante o exercício nocturno vi-me obrigado a ingerir uma bebida alcoólica para não ser desmascarado. O que vale é que ninguém estava a prestar atenção e consegui trocar o meu copo por um já quase vazio. Os métodos de recolher do inimigo são bastantes diferentes dos da Militia. Ou seja: cada um por si, mas nunca sem se antes ter ingerido uma boa dose de bebidas espirituosas.
A alvorada foi acidentada, por dois motivos: o primeiro é que sem darmos conta, alguém colocou o sino da igreja dentro do nosso alojamento. Depois, porque o comandante do inimigo (que por um mero acaso também é camarada da Militia) alegadamente se perdeu do resto da coluna e só chegou ao quartel à hora de levantar, e isto com bastante alarido.
Este dia era particularmente importante para esta missão, já que servia para observar in loco qual a estratégia do inimigo para vencer as dificuldades da serra.
Devo dizer que as tropas não estiveram no seu melhor, quer por que ficaram sem liderança (por motivos de cama), quer por o dia ter sido pautado por vários azares, que passo a descrever: logo de início, as tropas do inimigo não sabiam qual os planos de ataque (que tinham ficado com o comandante a descansar). Logo no primeiro ataque, fomos travados cobardemente pelo material. Um furo no pneu, não das máquinas de guerra, mas da viatura! Enquanto se processava a operação de reparação, gerou-se um momento de tensão, quando nos cruzámos com as tropas da Militia, que vendo os seus homens no meio do inimigo, agiu correctamente e seguiu viagem para não os desmascarar. Estas dificuldades foram contudo ultrapassadas graças à tenacidade do condutor da viatura, a quem gabo a paciência... quando finalmente as tropas avançaram pelo terreno, já só houve tempo para fazer duas descidas. Numa, perdemos o azimute, provocando um atraso brutal, e na segunda, logo depois de ter comunicado para o quartel da Parede que a missão prosseguia sem baixas... o camarada Fred saca um bruto face plant para cima de um ferro espetado no chão, e o soldado mais pequeno do inimigo, numa manobra arriscadíssima, executa no mesmo local um over the bar com aterragem de costas em cima da máquina do camarada Fred. Valeu-lhe o facto de só ter 10 anos e ser feito integralmente de borracha. Recomenda-se à Militia estar de olho nesta recruta, que pode vir a ser um adversário temível. Revelando uma paciência invulgar, o condutor da viatura manda a tropa recolher para almoço, já acompanhados pelo seu líder, devidamente munido dos planos para o resto do dia.
A logística das refeições do inimigo é deveras semelhante à da Militia, pelo que nada há a assinalar.
Antes do ataque da tarde, repararam-se os estragos sofridos no equipamento, e numa manobra ousada infiltrei-me ainda mais na organização adversária, que me presenteou com uma quase-sessão de luta corpo-a-corpo entre uns mercenários locais (uma curiosidade: como armas de combate, usam filtros de óleo!).
Com a chegada do líder supremo do inimigo, o condutor da viatura pode relaxar um pouco, mas com resultados desastrosos. Num episódio de “fogo amigo” mandou para enfermaria de campanha o próprio médico das tropas, entalando-lhe os dedos na porta da viatura. As manobras da tarde trouxeram ainda mais um azar, desta vez alheio, onde o inimigo revelou características muito interessantes: ajudar civis atascados no meio da estrada.
Os combates prosseguiram sem mais novidades, a não ser uma paragem forçada na descida de reconhecimento para a grande batalha. Como se estava a fazer noite, tive abandonar o pelotão, pelo que não pude observar mais detalhes das aptidões mecânicas e de combate nocturno do inimigo. Constou-me depois que o condutor da viatura demonstrou ter uma grande paciência.
Regressados ao acampamento, organizou-se o rancho em clima de tréguas com a Militia. O restaurante recomenda-se.
O dia da grande batalha amanheceu e o plano inicial mantinha-se: inventar uma desculpa esfarrapada para fugir das hostilidades e ficar junto do inimigo a sondar. Mas como ao fim da manhã, para além de uma queda aparatosa do comandante, já não havia mais nada para ver, optei por aproximar-me deste, numa tentativa de aprender mais sobre a técnica de cair e continuar a andar depressa. Achei que estes conhecimentos podem ser muito úteis à Militia. Assim, à hora combinada, e mais uns 30 minutos, achei-me na linha da frente, e ao lado das tropas mouras de Badajoz. Antes da partida desafiei-os de novo a virem a Sintra “bajar con nosotros”. Estes responderam com entusiasmo e alguns sorrisos, acho eu (estavam de capacete posto e não deu para ver bem!). Com esta confraternização acabei por me distrair e deixar escapar o meu alvo. Ainda pedalei com vontade pela serra abaixo, mas sem resultado. O inimigo dispõe de meios de guerra biológica eficazes, que lança indiscriminadamente pelo caminho, atrapalhando a visão e a respiração. Para cúmulo, já mesmo no final, acabei por ser descoberto, já que alguns elementos da Militia, que num momento de distracção, lançaram vivas à minha passagem.
Fui submetido a tortura com uma sande de febra e um copo de Sumol e não me restou senão confessar tudo. Como castigo, foi obrigado a indicar ao condutor da viatura o caminho até a Lisboa, para que este não perdesse o rumo... e a paciência.
Fim de relatório
Camarada Careca
Deixo aqui o link para as classificações do Avalanche:
http://www.montanha-clube.pt/index.php?option=com_wrapper&view=wrapper&Itemid=9
Ps: A familia Padilha domina a Serra da Lousã!!
Relatório da actividade do agente infiltrado, camarada Careca, durante as manobras de Outono na Lousã.
A/C Líder Supremo da Militia
Conforme deliberado pela cadeia de comando, junta-se relatório da actividade de espionagem junto do inimigo. Para não dar bandeira e não ser detectado, não vá dar-se o caso improvável de alguém ler isto, o relatório vai redigido “à civil”.
Conforme combinado, manipulei de forma convincente o inimigo para me vir buscar à porta de casa. Ainda ponderei longamente qual a estratégia a adoptar para não ser desmacarado, mas o meu disfarce não durou nem 1 segundo. O condutor da viatura e o ajudante eram dois camaradas, a saber, o Broeiro e o Magalhães. Quando me perguntaram porque é que não tinha ido com o resto da tropa, assobiei para o lado e chamei a atenção do condutor que se tinha enganado no caminho.
No local do rendez-vous, verifiquei que havia mais camaradas militianos à espera para embarcar neste mesmo transporte e fiquei a pensar se me tinha falhado a leitura de alguma Ordem de Serviço.
O inimigo possui equipamento mais avançado que o nosso, mas aparenta alguma desorganização e falta de método. Só a paciência do condutor é que parece fazer com as tropas se movimentem. Com a Militia, têm o comum o facto de partirem pontualmente atrasados.
A viagem decorreu sem incidentes, com agradável rancho pelo caminho (apesar de o condutor da viatura se ter perdido várias vezes). Durante o trajecto não cheirou uma única vez a eucalipto, apesar de estarmos na terra deles... A falta de perícia do condutor (e de sentido de orientação) obrigou a que o inimigo fizesse avançar uma coluna táctica em marcha acelerada para garantir que o aquartelamento se encontrava aberto e à nossa espera.
Chegada à Lousã sem incidentes de maior, a não ser o condutor da viatura ter-se perdido mais umas vezes. Desconfio que desconfiam de mim e estão a ver se me baralham as voltas. De qualquer modo, consegui obter o nome do local através de tortura a uma velhota que por ali passava. O local ainda não cheira a eucalipto, pelo que é recomendado para futuras incursões. Foi feita a distribuição das camaratas e fui colocado com o camarada Fred, que foi enviado com a missão de espiar as minhas actividades de espionagem. Ao fim da noite tive me esforçar para não ser apanhado. Durante o exercício nocturno vi-me obrigado a ingerir uma bebida alcoólica para não ser desmascarado. O que vale é que ninguém estava a prestar atenção e consegui trocar o meu copo por um já quase vazio. Os métodos de recolher do inimigo são bastantes diferentes dos da Militia. Ou seja: cada um por si, mas nunca sem se antes ter ingerido uma boa dose de bebidas espirituosas.
A alvorada foi acidentada, por dois motivos: o primeiro é que sem darmos conta, alguém colocou o sino da igreja dentro do nosso alojamento. Depois, porque o comandante do inimigo (que por um mero acaso também é camarada da Militia) alegadamente se perdeu do resto da coluna e só chegou ao quartel à hora de levantar, e isto com bastante alarido.
Este dia era particularmente importante para esta missão, já que servia para observar in loco qual a estratégia do inimigo para vencer as dificuldades da serra.
Devo dizer que as tropas não estiveram no seu melhor, quer por que ficaram sem liderança (por motivos de cama), quer por o dia ter sido pautado por vários azares, que passo a descrever: logo de início, as tropas do inimigo não sabiam qual os planos de ataque (que tinham ficado com o comandante a descansar). Logo no primeiro ataque, fomos travados cobardemente pelo material. Um furo no pneu, não das máquinas de guerra, mas da viatura! Enquanto se processava a operação de reparação, gerou-se um momento de tensão, quando nos cruzámos com as tropas da Militia, que vendo os seus homens no meio do inimigo, agiu correctamente e seguiu viagem para não os desmascarar. Estas dificuldades foram contudo ultrapassadas graças à tenacidade do condutor da viatura, a quem gabo a paciência... quando finalmente as tropas avançaram pelo terreno, já só houve tempo para fazer duas descidas. Numa, perdemos o azimute, provocando um atraso brutal, e na segunda, logo depois de ter comunicado para o quartel da Parede que a missão prosseguia sem baixas... o camarada Fred saca um bruto face plant para cima de um ferro espetado no chão, e o soldado mais pequeno do inimigo, numa manobra arriscadíssima, executa no mesmo local um over the bar com aterragem de costas em cima da máquina do camarada Fred. Valeu-lhe o facto de só ter 10 anos e ser feito integralmente de borracha. Recomenda-se à Militia estar de olho nesta recruta, que pode vir a ser um adversário temível. Revelando uma paciência invulgar, o condutor da viatura manda a tropa recolher para almoço, já acompanhados pelo seu líder, devidamente munido dos planos para o resto do dia.
A logística das refeições do inimigo é deveras semelhante à da Militia, pelo que nada há a assinalar.
Antes do ataque da tarde, repararam-se os estragos sofridos no equipamento, e numa manobra ousada infiltrei-me ainda mais na organização adversária, que me presenteou com uma quase-sessão de luta corpo-a-corpo entre uns mercenários locais (uma curiosidade: como armas de combate, usam filtros de óleo!).
Com a chegada do líder supremo do inimigo, o condutor da viatura pode relaxar um pouco, mas com resultados desastrosos. Num episódio de “fogo amigo” mandou para enfermaria de campanha o próprio médico das tropas, entalando-lhe os dedos na porta da viatura. As manobras da tarde trouxeram ainda mais um azar, desta vez alheio, onde o inimigo revelou características muito interessantes: ajudar civis atascados no meio da estrada.
Os combates prosseguiram sem mais novidades, a não ser uma paragem forçada na descida de reconhecimento para a grande batalha. Como se estava a fazer noite, tive abandonar o pelotão, pelo que não pude observar mais detalhes das aptidões mecânicas e de combate nocturno do inimigo. Constou-me depois que o condutor da viatura demonstrou ter uma grande paciência.
Regressados ao acampamento, organizou-se o rancho em clima de tréguas com a Militia. O restaurante recomenda-se.
O dia da grande batalha amanheceu e o plano inicial mantinha-se: inventar uma desculpa esfarrapada para fugir das hostilidades e ficar junto do inimigo a sondar. Mas como ao fim da manhã, para além de uma queda aparatosa do comandante, já não havia mais nada para ver, optei por aproximar-me deste, numa tentativa de aprender mais sobre a técnica de cair e continuar a andar depressa. Achei que estes conhecimentos podem ser muito úteis à Militia. Assim, à hora combinada, e mais uns 30 minutos, achei-me na linha da frente, e ao lado das tropas mouras de Badajoz. Antes da partida desafiei-os de novo a virem a Sintra “bajar con nosotros”. Estes responderam com entusiasmo e alguns sorrisos, acho eu (estavam de capacete posto e não deu para ver bem!). Com esta confraternização acabei por me distrair e deixar escapar o meu alvo. Ainda pedalei com vontade pela serra abaixo, mas sem resultado. O inimigo dispõe de meios de guerra biológica eficazes, que lança indiscriminadamente pelo caminho, atrapalhando a visão e a respiração. Para cúmulo, já mesmo no final, acabei por ser descoberto, já que alguns elementos da Militia, que num momento de distracção, lançaram vivas à minha passagem.
Fui submetido a tortura com uma sande de febra e um copo de Sumol e não me restou senão confessar tudo. Como castigo, foi obrigado a indicar ao condutor da viatura o caminho até a Lisboa, para que este não perdesse o rumo... e a paciência.
Fim de relatório
Camarada Careca
Deixo aqui o link para as classificações do Avalanche:
http://www.montanha-clube.pt/index.php?option=com_wrapper&view=wrapper&Itemid=9
Ps: A familia Padilha domina a Serra da Lousã!!
5 comentários:
Alguém me pode vir buscar que não sei bem onde estou.... sff. Obrigado.
Ass. Condutor
PS: Estou a ver ao longe uns sinais de fumo (possivelmente eucalipto). Será alguem amigo a querer orientar-me?
Fim de semana carregado de manobras de diversão, pois conhecia o plano de espionagem do inimigo. Para não mostrar que tinha esse conhecimento, até afinei a arma ao espião...
Ass. Comandante
bolas, chama-se a isto ser humilhado e torturado na praça pública...
e ainda por cima não saquei nenhuma informação de jeito!
assinado
o espião cegueta
Óh Carlos Jorge. Deixa lá o gafanhoto gigante e vai mas é comer uma peça fruta que te faz muito melhor....
Careca a tua esposa não te deixou foi vir ca militia, é malta da pesada com material absoleto mas muito organizadinhos né, mas tem um campo de treino brutal e só lá entram os duros os verdadeiros milicianos os boinas verdes...
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