Já aqui fizemos reviews a bikes, suspensões, bike parks e
até a cuecas castanhas. Desta feita, vamos falar de cinema...
Uma destas noites, enquanto dava uma olhada na nossa página
do FB, um link levou-me até ao Life Cycles. “Vou ver só 5 minutos...”. E quando
fechei os olhos, já passava bem da 1 da manhã. À semelhança de outros filmes,
ficamos com água na boca quando vemos o respectivo trailer pela primeira vez,
mas na verdade se ele não nos vier parar às mãos de bandeja, dificilmente lhe
pomos a vista em cima de novo. Confesso que nos 2 minutos a que já tinha
assistido deste “Life Cycles”, co-realizado por Derek Frankowski e Ryan Gibb, o
que me chamou desde logo a atenção foram os efeitos visuais, mas fiquei com a
sensação que o filme tinha mais para oferecer.
A narração de Graham Tracey começa por nos propor uma
viagem, e somos convidados a encarar a vida como um rio que avança, trilhando o
seu próprio leito. O desafio? Conseguir fluir, ou ficar para trás.
O que torna este filme tão diferente, então? O “epic riding”, com manobras tipo
back flip into emergency ward? Não. O estilo dos riders é todo ele
rapidez, fluidez e técnica. Durante anos, a referência do capítulo “insanidade”,
foi a saga New World Disorder. A receita do Derek Westerlund foi um sucesso, e
teve direito a 10 capítulos. Grande destaque para riders e sponsors, música a
partir, e uma predilecção pelas paisagens áridas do Utah. Este Life Cycles
afasta-se completamente deste modelo. Aqui, a natureza também é o protagonista.
Mas isso já nós tínhamos visto nas produções North Shore Extreme. A táctica de
Dan Cowan e os seus FlowRiders era verde, muito verde, construções impossíveis
de negociar, e os riders brilhavam mais pela atitude do que pelas manobras
suicidas. Esta abordagem ganhou público rapidamente. Primeiro com a experiência
italiana do Opachee Team, em Chlorophilla. O lema “Soul, Nature and Bikes”
ditado pelas Banshee nas encostas do Gran Sasso teve depois eco nas várias
declinações The Collective/Roam. A novidade aqui era a forma de produção. Com
menos meios que a Matchstick Productions, responsável pela marca NWD, Romaniuk and
friends provam que os big buck$$ não são necessários para obter um grande
resultado. Para mim, pessoalmente, a sequência com Andrew Shandro e Dave Watson
filmada em Maui, ao som de Sunday Jen, permanece como a que melhor captura a
essência do Freeride.
Entre o primeiro NWD (2000) e este Life Cycles decorrem mais
de 10 anos de avanços tecnológicos. A produção tem agora equipamento full HD a
preços acessíveis, e pela primeira vez os efeitos especiais contribuem para a
narrativa. Uma cena como a que mostra o avanço das estações do ano enquanto o
rider desliza pelo trilho, num mesmo take, com imagens fabulosas em
slow-motion, não teria sido possível antes (a esta dimensão). Mas considero que
isto é apenas tirar partido do equipamento disponível. E, lamento informar, os
Costal Crew chegaram a essa conclusão primeiro.
O que há então de inédito neste filme? Andar na neve? Nops.
Isso já tivemos em NSX VIII, com o Wade Simmons a negociar os trilhos de B.C.
no meio de um nevão, e à noite, nem mais! Será a banda sonora? Em certo
sentido, marca a diferença. A preferência pelos temas instrumentais não é
novidade (já tinha sido adoptada em Chlorophilla), mas aqui a conjugação da
banda sonora com a cenografia arrasa. Nada de musiquinha da moda nem ruído
desnecessário. A atenção do espectador quer-se no protagonista. E acho que é
aqui que reside a diferença.
No início, como disse, somos convidados para uma jornada
pela vida. Mas a definição de “vida” não se restringe necessariamente aos seres
humanos, nem sequer aos seres vivos. Esta viagem, o nascimento da “vida” que
ora nos interessa, começa nos fogos da indústria, com fundição de ligas de metal,
estufas de pintura, prensas e tornos CNC. E abandona rapidamente este ambiente
industrial para poder crescer no seu meio natural. Os ciclos de vida do nosso
protagonista vão evoluindo com os ciclos da natureza. E é já no fim, quando
assistimos à primeira queda e pensamos “Oh, porreiro, a parte das espetas!”,
que nos apercebemos do nosso erro. A sucessão de quedas existe, mas em vez de
feridas e fracturas, há metal estalado e partido, e as camas dos hospitais são
substituídas pela bancada do mecânico. Depois pensamos “Espera, até agora, não
vi uma única cara. Só capacetes e goggles”. Não vi, nem deveria ver, porque se
são precisos dois para dançar, para andar de bike também. Mas até hoje ninguém
se tinha lembrado de fazer um filme épico sobre a mais fabulosa das invenções.
E agora, que já percebi do que é que trata este Life Cycles, tenho que ver tudo
outra vez...
C
PS: desculpem lá se isto parece saído da revista do
Expresso, mas hoje deu-me para isto!
4 comentários:
Fabuloso! Foi tudo parar também no pedalices, o video e o teu texto, espero que não te importes. E se te importares azar porque quem escreve assim merece crédito :-)
Um abc de obrigado
RM
tá superiormente autorizado!
abc
C
Esta brutal mesmo dos melhores filmes que vi, excelente historia e ja para nao falar das imagens.
Boas C
Roscas
Nem o Ervilha teria uma virgula para colocar no texto. Muito bom. Venha mais disto.
Ass: Teresa Fidalgo
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