Agora que já tive oportunidade de experimentar a minha bike nova, e conseguir fazer uma descida de seguida sem que se desmontasse nada (ou nada de relevante...), chegou a altura de me sentar e escrever umas linhas sobre a máquina.
Em primeiro lugar, aviso já que isto se trata de uma extravagância pessoal para satisfazer o ego. Chega-se à crise da meia idade, e quem já trabalhou muito, compra um Porsche, quem não, compra uma bike cheia de suspensões. Não vou com toda a certeza tirar dela o máximo partido, nem vou competir, nem ser um “Ganda maluco”. Não. O que mais vou fazer com esta bike, é o olhar para ela, objectivo que cumpri fielmente nos primeiros 2 ½ meses que a tive. E nunca me cansei, mesmo com aquela cor verde psicadélico. É óptima para me manter acordada nos longos serões a trabalhar...
A bike está quase toda de origem, a única modificação que fiz foi a troca dos travões de origem (Formula) por uns Hope M4. E que travões! Fiquem a saber que quando toca a parar, funcionam MESMO! Ainda ontem, por exemplo, fiz o trilho das Torgas quase todo parado. O Jota viu e pode confirmar. Notem que as tolerâncias de construção são mínimas e consequentemente qualquer afinação, ou desvio, por menor que seja, tem consequências. Desde logo, a aranha do rotor flutuante de 203 mm do travão traseiro raspa irremediavelmente no suporte do pinça. A folga entre estes dois componentes é de meio cabelo. No entanto, não houve problemas de maior, foi só mesmo aquele barulho irritante e uma aranha sem tinta.
Obrigado ao Júlio da Lusobike por me ter feito desmontar a roda para nada e ao Pedro da Lusobike pela paciência e engenho a pôr tudo no sítio. Outro detalhe desagradável: logo na primeira pega de cernelha com uma acácia, o avanço esmagou e cortou o tubo hidráulico do travão dianteiro, por isso tive que inventar um sistema para manter o tubo afastado e protegido. Bastou imaginação e uns zip-ties no guiador Raceface Diabolus DH (que ainda está inteiro, menos mal).
A suspensão é fornecida pela Marzocchi (888 rc3 WC à frente com o respectivo avanço e um Rocco RC world cup atrás) e causou logo uma impressão dos diabos. Ainda a bike não tinha andado 1 metro sequer, e já os militianos todos diziam “este amortecedor está kaput!”. E eu respondia: ah e tal, não pode ser, a bike nunca andou! Mas afinal podia mesmo e bastou uma descida para se confirmar que algo estava podre no reino de Andorra. Para além do barulho insuportável da mola a bater, a traseira parecia uma égua com o cio. Levado o dito às mãos do sr. Mauro da Bike Center, foi-me explicado que estava mal purgado e tinha ar lá dentro (daí a azia com que fiquei logo nesse domingo, só pode).
Resolvido o problema, pude verificar este fim de semana que afinal funciona e porta-se bem. Neste capítulo, onde noto mais diferença para a minha querida Yeti é na passagem em locais com o piso super irregular, com muitas raízes e pedras pequenas, onde o conjunto tem de trabalhar a alta velocidade. A sensação de confiança que a bike transmite é incrível, fazendo com que o que antigamente se assemelhava a uma tortura para os braços e pernas, agora seja tão simples como andar num empedrado. Ou seja, notamos que o piso é irregular, mas não se passa mesmo nada. 100% agarrada ao solo, e gásssssssssss! O camarada Grilo pode explicar melhor como é. Noto diferença também nos trajectos que antes tinha de evitar por causa de grandes calhaus, ou pequenos drops que tinham de ser negociados com muuuito cuidado. Antes, era certo e sabido que se tentasse passar “à cão”, a suspensão esgotava e era OTB garantido. Agora a máquina engole aquilo tudo e pronto, não se fala mais no assunto. Creio que ainda deve haver espaço para melhorar com as mil afinações possíveis, mas primeiro tenho de aprender como se faz. (Ou espero que o Deffense se recomponha e venha andar com a malta. As tuas melhoras pá!)
Quanto ao material que rola e gira, posso já dizer que não gosto dos aros sunriglé equalizer. Ainda só desci 1 (um, one, un, uno) lanço de escadas e já estão todos “mordidos”. Andei anos a fio com aros singletrack e nem um empenozinho tinham. Dá que pensar... Os cubos também são da mesma marca e têm um aspecto robusto. Vamos ver se correspondem. Ainda no capítulo das rodas, uma palavra para o sistema do eixo traseiro. E a palavra é: C****** mais ao gajo que inventou esta porra! Meia hora para desmontar e montar uma jante? PQP! E mais, ai de quem estiver sozinho e furar. E mesmo que seja a Militia toda, não se esqueçam do maço e de um veio para sacar aquilo para fora. Ah, e mais a chave sextavada de 0,5 mm. E um café para os nervos também. A sério. Não se podia ter feito uma coisa mais simples? E da roda da frente, que dizer? Bem, que quando se compra uma bike nova, devemos ver se está tudo apertado convenientemente, sob pena de perdermos o eixo e fazermos o inevitável OTB!
Tudo isto é calçado pelos mais que batidos Maxxis High Roller 2.5, que toda a gente conhece e por isso não gasto mais bytes com eles.
O pedaleiro é um Raceface diabolus. Nunca tive material desta marca e ainda considerei trocá-lo pelo meu velho Saint. Mas depois de olhar para ele com atenção, decidi experimentar. E posso dizer que ainda não avariou, e, caso raro e nunca visto, consegui andar um dia inteiro sem que a corrente saltasse! (Suspeito que a guia de corrente E13 tenha alguma coisa a ver com isso...). O conjunto é muito suave no pedalar, sem ruídos, e o aspecto brutal transmite confiança. Os pedais já são meus conhecidos (5050 X) e espero que cumpram a sua função, que é esfacelar as canelas a um gajo.
Mudemos agora para as mudanças. Eu sei que isto é uma bike topo de gama e custa uma nota e tudo isso, mas... Um SRAM XO em carbono? Uma peça que leva pancadaria, parte a toda a hora e custa uma fortuna? Acho que não se justifica. Bem sei que o conjunto trabalha de forma irrepreensível, o manípulo tem “n” afinações que dão muito jeito, mas este já tem viagem marcada para a bike de XC.
O selim é gay e foi desenhado por estilista de selins gay, que lá colocou umas coisas debruadas gay, e é feito em carbono gay com um rail em “T” (que também é gay). Na primeira oportunidade vai para o desfile do arco-íris, fazer companhia aos da laia dele. O poste do selim já foi cortado uns cm para ir mais para baixo, mas devido à companhia duvidosa (e ao encaixe em T) também é gay e já tem as botas calçadas....
Quanto ao resto (qual resto, perguntam vocês?), tratei de proteger o quadro e as jarras da suspensão para evitar os riscos dos impactos das pedras, mas sinceramente, com 7 bikes empilhadas na velha Transit, suspeito que é uma questão de dias até ficar como se tivesse andado à bulha com um gato...
Globalmente, estou satisfeito. Feitas algumas descidas, tenho a prova provada que a bike não faz o rider. Bem posso encher-me de suspensões e controlos de rebound em cada dedo, que se n houver kit de unhas, o Fininho vai continuar a desaparecer no horizonte em menos de nada. Acho que a máquina cumpre perfeitamente os 3 objectivos que determinaram a sua aquisição, a saber:
1- Cessar imediatamente a vandalização da Yeti (cabe agora essa tarefa a outro gajo);
2- Deixar o dono com um sorriso nos lábios no fim de cada trilho (e menos esfoladelas);
3- Mostrar aos militianos com quantos paus (de acácia) se faz uma canoa. Já comecei a coleccioná-los.